

no princípio estava ela . agora que parto em direcção ao horizonte ela surge também. por ela fiz e aconteci . Joguei basket até o corpo doer . deitei em mil sítios com ela ao meu lado . tudo vivi com ela , tudo vivi nela . estradas e mais estradas . comboio . noites acesas de discussões mascaradas . paixão . cumplicidade derretida em nós . a ela escrevi cartas infinitas que forraram durante anos os assentos do seu carro azul bebé . a ela dediquei sons e letras . a ela cantei em público apavorado uma canção bonita que começa assim : "Vai minha tristeza e diz a ela ... que ... sem ela não pode sêr!" . Por ela marquei o ponto 100 de um jogo histórico . por ela chorei , ri e amei . abraçei-me a ela quando percebi quem era , quando percebi o que era . por ela ofereceria a minha vida . ela foi Miguel Ângelo eu fui David . no fim ambos nos esculpimos . ao seu lado nunca fui capaz de adormecer . o que sou , sou-o nela também . ela sabe quem é para mim . amo-te .


(...)
deixei-me de tretas fechei e abri os olhos e no âmago da cidade senti-me bem. Acolhedora em locais suspeitos, misto de aldeia citadina, bairro alto liso.
(...)
na próxima vez que abrir meus olhos chamo estas ruas de mãe ... adormeço nos lábios quentes a quem chamo de Amor. Barcelona

acordo depois de mil mais acordarem antes de mim. Olho para o lado e continuo no meu sono meio. Saio à rua e debaixo de um vento que me lambe a cara, caminho suavemente por entre cadeiras, mákinas fotográficas furiosas e caes rafeiros. Fecho os olhos e cheiro tudo o que me envolve. Sinto-me bem. Penso em mil e uma coisas que esqueci em tanto andar. Troco de lingua como quem troca de lado numa cama pouco estreita. Mil pessoas. Todas com uma missao. Nem um missionário. sigo pé ante pé , nunca caminho ordinário .

